20 junho 2011

this is the thing

Deparo-me diariamente com várias situações destas, não sendo a que vou descrever, conhecida.
Sara. 16 anos.
Bem, esta rapariga… linda. Olhos azuis, cabelos loiros, uns lábios carnudos, dentes brancos e esbeltos, um corpo magnífico. 1, 68m. Imaginem. Perfeita? Para a maior parte de nós, sim… perfeita.
Sara não tem pais, vive com a avó num sítio que nem se pode chamar de casa. O que lhes aconteceu? Não sei ao certo. Alguns dizem que a causa da morte foi um acidente de carro, ao qual Sara escapou. Outros dizem que foi numa explosão qualquer e ainda há os que não opinam sobre isso. Mas o que sabem os vizinhos além de meros boatos? Nada.
Sara anda na escola, 10º ano. Trabalha nos tempos livres para se sustentar. A si e à avó. Tem muitas amigas, mas só uma lhe é fiel. A Vera. Acompanha-a em tudo. Dá-lhe força. Sendo a única a saber da sua vida.
Como é que a Sara é? É alegre, desinibida, simpática. É assim que amigos e colegas a conhecem, sem “porquê”, sem “mas”. É assim que ela se dá a conhecer. Quando passa, deixa transparecer mil olhos sobre ela. Rapazes loucos. Ela não liga, não dá trela. Apesar do ser sociável que é, não dá confiança a qualquer um… a qualquer pessoa. Mas estas imensas pessoas com que ela se depara diariamente, conhecem-na? Sabem pelo que ela passou, pelo que ela passa? Não. E porquê? Porque não lhes interessa. Fixam-se tanto no acto de manter a imagem, a estatura social, o “ai esta é bonita, vou ser amiga dela” que o resto, passa ao lado.
Sara soube da triste notícia dos seus pais. A morte. Fechou-se no quarto, não chorou. Acho que até hoje não deixou sair de si qualquer lágrima e entretanto já se passou um ano e meio. Ela, tem crises de ansiedade desde aí. Ainda as tem. Ainda as suporta. Ainda as esconde.
Um dia destes, uma das suas colegas foi ter com ela, chateada porque os pais não a tinham deixado sair na noite anterior. Era a Daniela. Uma típica riquinha. Ainda aborrecida com a situação diz, num tom mau e forte “Eu odeio os meus pais. Nunca me deixam fazer nada. Querem sempre que fique com eles, em casa. Deve ser para criar raízes. Ainda por cima só me dão 10 euros por semana. Fogo oh, que nervos. Estou tão farta deles.” Sara cala-se. Uma lágrima escorre. Segundos depois, diz “Tu dizes que odeias os teus pais por não te deixarem sair à noite? Eu dava tudo para poder passar uma noite com os meus. Uma. Uma casa não é? A minha está a cair aos pedaços, de velha. Enquanto tu andas a reclamar pelos teus 10 euros semanais, eu ando a trabalhar e, mesmo assim, não me chega quase para comer. Dá mais valor ao que tens e preserva principalmente, porque tu, tu és uma menininha mimada, mal-habituada. Um dia destes podes ser tu a ficar sem nada, sozinha, desamparada, obrigada a seres adulta à força toda e tens que estar preparada para o que te espera. E, digo-te, que há alturas em que esperar não é uma solução. Os caminhos fáceis com que te tens deparado não te levam a lado nenhum, não te elevam. Eu, sou obrigada a racionalizar tudo, principalmente os sentimentos. Tinha que meter na cabeça que, um dia, alguém se iria importar comigo, com o meu bem-estar. E achas que isso aconteceu? Achas que alguém, durante este ano e meio, se importou como eu estava?”
Daniela suspirou, sorriu. E, por fim disse “O dia chegou, Sara. A merda do dia chegou! Eu posso nunca ter estado aqui para ti. Mas agora, agora estou! Ainda vale a pena?” ao que Sara respondeu “Vale sempre a pena, minha amiga.” Finalmente chorou, expulsou de si todos os antigos traços.
Não sei o que aconteceu a seguir. Só sei que, uma semana depois estavam num café, a conversar. Felizes da vida. Porque, diga-se de passagem, é assim que tem que ser!

8 comentários:

Áries disse...

é real?

maria gabriella disse...

obrigada baby :b

disse...

obrigada e adorei ivone.

Sara Almeida disse...

transparente, magnífico!

Mafalda disse...

Faço a mesma pergunta que a Esther, é real?

Mafalda disse...

Não deixa de estar fantástico:)

Cristiana Figueiredo disse...

adoro!

Catarina disse...

uau amei. é mesmo verdade?!