08 novembro 2017

O regresso

O som do piano faz-me desenvolver a habilidade de desarmar os sentidos. A verdade é que quando estamos sozinhos até a mais pequena brecha de luz é capaz de nos fazer ir. Quero tanto ir. Ser mais. Libertar-me da tela branca onde te pinto sempre, repetidamente. Pergunto-me como é suposto viver num corpo vazio, desgastado, mas quente. 
Sempre foi o quente do meu corpo que te fez voltar. É assim que é suposto ser o amor, não é? Eu aquecer-te enquanto te enrolas em mim. A minha alma chora quando o frio vem e tu não estás, não estarás nunca mais e é bem possível que não me consiga contentar com esta distância permanente. 
A questão é: como é que a tua vida se tornou tão feliz sem mim? Nunca o nosso mundo foi pautado por amargura, por revolta. Sempre foste um ser livre com medo de amar, que decidiu partir num dia de verão. Sempre gostaste do calor, não é? E eu deixei-te partir. 

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